11/2/2014
*Por Marcus Aurélio de Carvalho
Desde junho de 2013, repito, no FB, que as chamadas 'táticas' dos black blocs só servem para atrapalhar as legítimas e necessárias manifestações dos movimentos sociais para melhorar a qualidade de vida, buscar dignidade nos transportes públicos, exigir o fim da truculência policial, etc.
O que esperar de uma tática fundada na irresponsabilidade de alguns e na pouca formação política de outros de seus integrantes? Os partidos políticos do chamado campo progressista também têm responsabilidade em tudo isso. Nos últimos 20 anos, perdidos com o desgaste do modelo de organização que prevaleceu no século XX, se concentraram demais na busca pelo poder institucional (o que também é legítimo na democracia) e abandonaram a prática de formação (com efe maiúsculo) de quadros, núcleos de debate político na base, etc.
A política para a militância partidária ficou entregue, há duas décadas, em sua ampla maioria, aos:
- carreiristas;
- burocratas;
- militantes rasos, sem noções de como funciona o processo histórico, mas com uma arrogância do tamanho da chamada geração Y.
Resultados? Permissão para que um modelo 'inimigo na trincheira' ganhasse espeço. Morte e ferimentos em manifestações e desgaste dos movimentos sociais na relação com a opinião pública. Dizer que a PM é despreparada é chover no molhado. Já sabemos. Dizer que esse desgaste de imagem é resultado apenas da 'manipulação da mídia' é o cúmulo da prática de tirar o seu da reta, esporte tão apreciado neste lugar em que vivemos.
Minha solidariedade à família de Santiago. Que a morte dele sirva para uma grande reflexão de todas as partes.
Que muita gente que sequer leu algo sobre filosofia, história, etc, entenda que, mesmo na necessária construção de novos modelos, política é a arte de buscar aliados, não é o esporte de reafirmar sua posição a qualquer custo.
Não se faz política com o fígado nem com a intransigência tão presente nas redes sociais. Isso só serve para perder potenciais apoios. Política se faz na saudável troca de ideias e na capacidade de conquistar adesões com fatos concretos e práticas coerentes.
Que voltemos a ter manifestações de movimentos realmente sociais: com pautas claras, com tática focada na conquista de direitos e de gente solidária aos objetivos e com organização coletiva. Quem foi que disse que organização é, necessariamente, sinônimo de autoritarismo?
Sem partido, sem reflexão, sem proposta, sem missão, sem clareza, o que sobra é a barbárie.
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* Jornalista, professor e radialista. Coordenador da Unirr - União e Inclusão em Redes e Rádio.
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